Com práticas ESG já adotas na administração pública, um grande desafio é como disseminar essa agenda para a cadeia de valor das empresas das empresas de infraestrutura
Alavancada pelo setor financeiro, e potencializada pela pandemia, a adoção das práticas ESG vem sendo abraçada não só pelas empresas listadas em bolsa, mas pelo mercado em geral. Também assim o poder público tem voltado a atenção para o estímulo da adoção dessas práticas nos projetos de infraestrutura. Antevendo retornos financeiros importantes e um compromisso mais alinhado com as práticas sustentáveis já adotadas pela administração pública, os projetos têm incorporado práticas ESG de forma mais estruturada e detalhada, especialmente no âmbito dos contratos com fornecedores.
E é neste ponto que se revela um grande desafio: como disseminar as práticas ESG para a cadeia de valor das empresas que atuam no setor de infraestrutura?
Pois bem, nos parece relevante aprofundar a discussão sobre medidas práticas para propagar a cultura ESG pela cadeia de valor dessas empresas. Trazemos três contribuições para ajudar.
A primeira delas é a realização de due diligence ESG, medida de suma relevância para assegurar o alinhamento dos potenciais parceiros às práticas dessa natureza, mapeando e evitando riscos financeiros e reputacionais e, obviamente, perpetuando tais conceitos pela cadeia de valor.
A conscientização sobre a temática ESG gera um movimento natural de autorregulação do mercado, que passa a incentivar e a exigir uma atuação socialmente responsável e com foco em sustentabilidade dos parceiros de negócio como requisito para o estabelecimento de relações comerciais.
A due diligence ESG é uma questão de transparência, e a empresa que a conduz pode focar sua análise na verificação da adesão e conformidade dos parceiros de negócio aos compromissos e metas nacionais e internacionais, e na existência de políticas internas para mitigar os impactos de sua atividade.
A segunda medida prática é a adoção de uma abordagem colaborativa nas contratações e envolvimento precoce dos contratados. A colaboração é um ponto chave para a obtenção de melhores resultados ESG. É importante que o mercado de infraestrutura passe a considerar seriamente a adoção de modelagens contratuais mais integradas e colaborativas, tais como o Contrato de Aliança, o Framework Alliance Contract (“FAC-1”) e o Integrated Project Delivery (“IPD”), dentre outros.
Os contratos colaborativos reduzem a postura adversarial entre as partes, permitem o compartilhamento de riscos, possibilitando o mapeamento precoce e mais apurado de potenciais impactos adversos de projetos de construção no meio ambiente, a criação de estratégias mitigadoras integradas e a gestão eficiente.
Por fim, a terceira e última medida prática é a inclusão de cláusulas com obrigações, metas e incentivos específicos relacionados ao tema ESG nos contratos de infraestrutura.
Explorando as oportunidades contratuais, é importante que esses contratos prevejam não só mecanismos de desestímulo às condutas contrárias às práticas ESG – com a criação de advertências, indenizações e penalidades específicas-, mas, também, estímulos positivos, tais como a previsão de bônus e incentivos para cumprimento de metas.
Outro ponto que não pode ser esquecido é a gestão e o acompanhamento dos contratados. Logicamente, não basta criar obrigações e não gerenciar o seu cumprimento, permanecer próximo ao contratado, manter um canal de comunicação sempre aberto, estimulando o diálogo e a transparência, orientar, motivar e treinar são ações que podem ser decisivas para o sucesso.
Acreditamos, assim, que as medidas práticas ora sugeridas configuram um bom roteiro para o início dessa jornada de propagação da cultura ESG pela cadeia de valor das empresas do setor de infraestrutura, jornada essa que não se desenvolve do dia para a noite, mas, é, sim, construída ao logo do tempo, com propósito claro, persistência, compromisso, colaboração e investimentos.
Por Ana Claudia Franco e Natalia Bastos.
Fonte: Valor Econômico